Se você, como eu, já lidou com tendências diversas, como, por exemplo, as tecnológicas, sabe o quanto é fácil se encantar por promessas brilhantes e ficar desiludido logo em seguida. Foi justamente esse ciclo – que o Gartner chama de Hype Cycle – que vivi na pele mais de uma vez.

Hoje, vamos compartilhar um pouco dessa jornada com você, para que possamos refletir juntos:

Como navegar nesse ciclo sem nos perdermos no entusiasmo ou na frustração?

hype cycle gartner

Entendendo o Hype Cycle (com uma pitada prática)

O Hype Cycle do Gartner é um modelo visual que descreve a trajetória de adoção de novas tecnologias, desde a fase inicial de descoberta e hype até o amadurecimento e a adoção mais ampla. Ele é composto por cinco estágios bem definidos:

  1. Inovação – O momento inicial, quando surgem tecnologias disruptivas e ideias promissoras. Aqui, as conversas são cheias de “isto vai mudar o mundo”.
  2. Pico das Expectativas Infladas – O hype atinge seu auge. A mídia, os fornecedores e os early adopters estão eufóricos, mas a tecnologia ainda tem muitos desafios a superar.
  3. Vale da Desilusão – As expectativas caem. As primeiras implementações reais revelam limitações. Aqui, muita gente pula fora.
  4. Ladeira da Iluminação – As soluções começam a amadurecer. Casos de uso mais claros e práticas consolidadas aparecem.
  5. Planalto da Produtividade – A tecnologia se estabiliza e começa a entregar valor real de forma consistente.

Você pode ver essa metodologia em detalhes aqui: Gartner Hype Cycle.

Primeira Travessia: O Hype do Big Data

Me lembro como se fosse ontem: na época, estávamos todos obcecados pelo conceito de Big Data. As empresas queriam “montanhas de dados”, “insights mágicos” e falavam em transformar o mundo com analytics.

No início, participei de várias reuniões onde o discurso era quase poético: “Com Big Data, vamos prever tudo, entender o cliente antes mesmo dele saber o que quer”.

A empolgação estava no Pico das Expectativas Infladas. Procuramos consultorias, estudamos ferramentas caríssimas e investimos tempo e dinheiro. E então… veio o Vale da Desilusão.

Muitas promessas não se concretizavam. Faltava maturidade na tecnologia, no mercado e (confesso) em nós mesmos, que não tínhamos processos para lidar com grandes volumes de dados. Só quando reorganizamos nossa abordagem, priorizando casos de uso reais e treinamento das equipes, conseguimos subir a Ladeira da Iluminação e alcançar resultados palpáveis.

Hoje, usamos analytics de forma sólida e pragmática – sem a ilusão de que “dados são mágicos”, mas com a consciência de que dados bem trabalhados geram insights valiosos.

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O Hype Cycle não é só sobre tecnologia

Uma coisa que aprendemos (e que vale ouro para quem trabalha com inovação) é que o Hype Cycle do Gartner não vale apenas para novas tecnologias – ele também se aplica a processos, modelos de negócio e até a comportamentos corporativos.

Recentemente, acompanhei a adoção de inteligência artificial em equipes comerciais. No início, tudo era deslumbramento: “A IA vai resolver todos os nossos problemas”. Ferramentas foram implantadas, dashboards automáticos apareceram, e por um momento parecia que teríamos superpoderes.

Mas, adivinha? Vieram as limitações: falta de dados consistentes, resistência cultural, sobrecarga na operação, necessidade de revisão dos fluxos de trabalho… Isso nos jogou direto no Vale da Desilusão.

E sabe o que me ajudou a virar o jogo? Pragmatismo e paciência. Fomos entendendo o que a IA realmente poderia oferecer: apoio em tarefas repetitivas, insights sobre tendências e ajuda na priorização de leads. Não era (e nunca foi) sobre substituir o toque humano, mas sim potencializá-lo.

Aqui, vale um agradecimento especial ao Bruno Faggion, cujo vídeo explicando o Hype Cycle do Gartner foi um divisor de águas para mim. Ele conseguiu, com muita clareza, traduzir o que muitas vezes parece um conceito distante para algo aplicável no dia a dia.

Créditos: o vídeo do Bruno Faggion no YouTube explicando o Hype Cycle foi de grande ajuda.

Hoje, estamos subindo a Ladeira da Iluminação, e vejo claramente como essa tecnologia se encaixa na estratégia comercial.

5 lições pessoais para sobreviver ao hype cycle

Se eu pudesse resumir tudo isso em algumas lições que você pode aplicar amanhã mesmo, seriam estas:

🔍 1. Olhe além do hype – Toda tecnologia nova vem acompanhada de promessas exageradas. Tenha senso crítico e pergunte: “Isso resolve um problema real da minha empresa?”

📊 2. Teste pequeno, aprenda rápido – Em vez de apostar tudo de cara, faça pilotos controlados. Avalie resultados antes de escalar.

👥 3. Prepare a cultura e as pessoas – As maiores barreiras não são tecnológicas, mas humanas. Prepare sua equipe para as mudanças e alinhe expectativas.

🚀 4. Foque no valor prático, não na novidade – Evite adotar tecnologias só porque são novas. Pergunte sempre: “Qual valor real isso entrega?”

5. Tenha paciência – O Hype Cycle nos lembra que o valor real leva tempo para aparecer. Resiliência e visão de longo prazo são essenciais.

Não fuja do hype, mas navegue com consciência

O Hype Cycle do Gartner não é um alerta para fugir da inovação. Pelo contrário: ele é um mapa precioso para entender onde estamos e o que esperar do caminho à frente.

Com ele, conseguimos equilibrar o entusiasmo inicial com o pragmatismo necessário para implementar tecnologias e processos que realmente façam sentido.

Se você está no começo da jornada, ou já se decepcionou com alguma promessa tecnológica, lembre-se: o hype passa, mas o valor real fica.

E você, já passou por isso?

Se identificou com alguma parte desse ciclo?

Qual foi sua experiência com uma tecnologia que não entregou tudo que prometia no começo?

Ou aquela que decepcionou… mas depois virou ouro com o tempo?

Vamos aprender juntos a navegar o hype com mais maturidade e menos ilusão.